Christopher Hitchens veio recentemente a Portugal.
Algumas personalidades conotadas com a esquerda socialista celebraram a vinda do intelectual anglo-americano congratulando-o pelo seu laicisismo, entre outros aspectos.
Algumas personalidades da esquerda socialista exercitaram algo muito próximo da crítica indolente, isto é aprisionaram a razão nos seus dogmas.
Vejamos:
- celebram Hitchens pelo seu ateísmo;
- pela sua noção pragmática e utilitarista da democracia;
- pela sua criticidade politicamente incorrecta;
- relembrando as suas origens analíticas (marxistas).
- e apoiam a sua noção de democracia: a Ocidental, porque civilizacional, o que não deixa de nos remeter para um neoimperialismo e/ou neocolonialismo, mas que certa esquerda convenientemente ignora.
O discurso de Hitchens em prol da invasão do Iraque é sustentado nisto, o seu ataque à religião ignora que são posições como estas que também (e não só) potenciam e revigoram a cruzada do fundamentalismo e, fundamentalmente, que há algum tempo atrás a isto se chamou secularização. A novidade da posição de Hitchens é que pretende "casar" a secularização com a democracia, utilizando meios antigos, os descobrimentos e o seu mandato religioso, a cruzada do bem - religioso - contra o mal - bárbaro, nativo. A isto se chamou colonização, destruição de povos nativos e ocupação de territórios. Na altura alguém terá visto neste procedimento prolegómenos em honra da civilização. Na altura foi convenientemente ignorada uma determinada pergunta: será que os nativos estarão interessados na nossa civilização? será que os nativos não pretenderão fazer, eles próprios, a sua evolução civilizacional?
Certa esquerda socialista não aprende nada com os erros do passado e quer-nos embalar com causas ultrapassadas.
Para certa esquerda socialista a moralidade religiosa é bárbara porque assente em dogmas, desrespeitando os direitos dos seus crentes, nomeadamente as mulheres, para os fundamentalista a moralidade Ocidental é bárbara porque é promíscua e não respeita os dogmas religiosos.
Entre uns e outros há algo de comum: o dogma, e tal dogma ocidental é a outra face do asiático e, infelizmente, ambos se alimentam do fanatismo.
Ler também:
Ciberescritas
Artigo sobre Hitchens, Público, 26/02/2010
Jugular
Pedro Doria
Inês Pedrosa, Revista Expresso, 27/02/2010
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