quinta-feira, 11 de março de 2010

Elsinore, 1949

2.1.1 - As Conferências Internacionais da UNESCO
As Conferências Internacionais da Unesco são determinantes para um conhecimento fundamentado da história da Educação de Adultos. Até ao presente decorreram cinco conferências:
- Elsinor, Dinamarca, 1949
- Montreal, Canadá, 1960
- Tóquio, Japão, 1972
- Paris, França, 1985
- Hamburgo, Alemanha, 1997
Analisaremos as cinco conferências segundo as perspectivas que consideramos mais interessantes para o presente trabalho, nomeadamente noções que aprofundem concepções referentes às noções de educação vista na perspectiva da cidadania e da empregabilidade, isto é a educação e trabalho como direitos fundamentais do ser humano.
O documento introdutório preparado para a primeira conferência internacional (Elsinor, 1949) refere que o nascimento do termo Educação de Adultos ocorreu articulado à noção de progresso democrático e social e o seu objectivo centra-se em propósitos latos, diversificados e abrangendo as diversas dimensões em que se movem os adultos.
“(…) todo o objectivo da educação de adultos tende a satisfazer as necessidades culturais dos adultos em toda a sua extensão e diversidade. Por esta razão, o conteúdo, programas e métodos variam tremendamente de acordo com as necessidades específicas dos indivíduos, dos grupos sociais e nacionais e consoante a premência dos problemas a resolver.” (Elsinore, 1949: 9)
Assim, a Educação de Adultos exigiria planificação estratégica tendo em vista suprir as necessidades dos adultos e as diferentes realidades nacionais. Reconhecendo as diferentes realidades nacionais será possível equacionar-se uma resposta comum em termos de objectivos e ideais?
Segundo os delegados presentes na conferência são inequívocos e poderão resumir-se da seguinte forma:
“- apoiar e encorajar movimentos que trabalham para fazer nascer uma cultura onde se ponha termo às rupturas entre as chamadas massas e as chamadas pessoas cultas;- fomentar o verdadeiro espírito de democracia e o verdadeiro espírito da humanidade;- despertar na juventude a consciência da própria vida. Este terceiro objectivo poderá ser o melhor ponto de partida para a realização dos outros dois.” (Elsinore, 1949: 12)
São evidentes as diversas dimensões de Cidadania, sendo a educação de adultos o elo fundamental entre a democratização social, política económica e cultural e o bem-estar social. Assim, desde a concessão de direitos e privilégios idênticos às populações emigrantes, formação de cidadãos amadurecidos de uma comunidade mundial, métodos e técnicas democráticas, desenvolvimento da capacidade de autonomia e transformação social, capacidade de solução de problemas, diminuição e combate das tensões sociais, renovação da democracia, concepção de material didáctico adequado aos interesses dos adultos, evitando a uniformidade de métodos e abrangendo todos os sectores da população, vastas são as questões colocadas tanto em termos de bem-estar social, como de correcção das desigualdades sociais, económicas e culturais. Para que os interesses dos adultos sejam salvaguardados é assim fundamental que a educação de adultos adopte conteúdos, métodos e técnicas dinâmicas e reconheça a heterogeneidade do adulto, tendo em conta a sua experiência social, profissional e cultural, sendo que é através da compreensão da sua própria situação que o adulto é chamado a compreender os diversos fenómenos sociais, políticos, económicos e culturais que o rodeiam. Assim, as instituições onde os adultos se organizam são fundamentais, contudo as agências capazes de organizar a educação de adultos são desde associações de voluntários, organizações de trabalhadores, apoiados em instituições do Estado direccionadas, para que diversos intervenientes resolvam e suavizem tensões entre as diferentes classes sociais e as suas diferentes culturas através da inserção de todos no processo de democratização da educação.
Poderá a educação de adultos servir de base para a implementação de reformas estruturais na sociedade?
Segundo os delegados presentes na primeira conferência internacional da educação de adultos o descontentamento, frustração, deterioração de valores e desilusão em relação ao mundo são desafios ao movimento da educação de adultos. Assim, a educação de adultos poderia ser invocada para auxiliar outros campos da actividade teórica e prática através do uso do conhecimento para
“(…) procurar a verdade, liberdade, justiça e tolerância.” (Elsinore, 1949: 45)
É assim através da formação de um cidadão mais consciente dos interesses que o rodeiam, da sua contribuição para a solução das dificuldades materiais, culturais, cívicas e sociais que é construído um modelo fundado nos seguintes princípios básicos:
- Liberdade de pensamento e discussão;
- Reconciliação entre os povos de diferentes ideologias;
- Combate contra o pessimismo generalizado nas instituições internacionais de referência (ONU);
- Fomento da compreensão internacional através dos organismos voluntários;
- Fomento da paz e melhoramento dos modos de vida do homem comum;
- Cooperação com nações excluídas;
- Cooperação entre países desenvolvidos e menos desenvolvidos;
- Cooperação entre a educação de adultos e a participação da população na sua própria educação;
- Apoio financeiro e moral do Estado o mais amplo possível;
- Utilizar as instituições já existentes e integração tanto na base nacional, como na internacional;
- Estudo dos problemas mundiais e nacionais.
Há, no entanto, um leque de problemas cuja cooperação internacional urge resolver (ONU e UNESCO), para que seja possibilitada uma maior circulação de pessoas para fins educativos:
- Liberalização das comunicações;
- Facilitar as formalidades das fronteiras;
- Livre circulação de pessoas;
- Restrições cambiais e flutuação das moedas;
- Língua comum;
- Combate às diversas formas de discriminação (racial, religiosa, cultural, etc.);
- Apoio à Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Passando em revista a evolução da Europa nos últimos 70 anos, poderíamos levantar algumas questões, como, por exemplo, de que forma é que os problemas invocados nas conferências internacionais não colocaram a educação de adultos ao serviço de um ideal educativo sobrecarregado de finalidades, objectivos e princípios e, simultaneamente, repleto de tensões, contradições, pois se de um lado estamos perante a defesa de ideais de democracia local e participativa, do outro são acentuadas as valências da cooperação internacional, tendo em vista a livre circulação de pessoas com fins educativos, mas cujas tendências futuras se centraram na expansão da globalização, liberalização das comunicações, abolição de fronteiras, livre circulação de pessoas e capitais, implementação de uma moeda única e língua comum, no que de mais dramático trouxe para cada Nação, tanto no que diz respeito à defesa das suas tradições, língua e cultura, como no que diz respeito à sua independência económica, cada vez mais dependente de flutuações do mercado de trabalho e deslocalizações das empresas. A educação de adultos do passado, do presente e do futuro não deverão estar atentas aos principais problemas do homem comum?

Sem comentários:

Enviar um comentário