- A visibilidade do campo da educação não-formal não é separável dos discursos em torno da crise da escola;
- Apesar de actualmente os mesmos serem mais amplos e heterogéneos do que no passado, pois dependem de condicionantes económicos, sociais e político-ideológicos mais abrangentes;
- Que tipo de condicionantes?
- expansão e internacionalização da economia capitalista, segundo a ideologia neo-liberal;
- capitalismo "informacional";
- mutações nas formas de organização do trabalho - devido à deslocalização das indústrias, colocando no desemprego mão de obra desqualificada, face às novas realidades do emprego, o discurso do poder político, pretende alinhar o seu discurso com as necessidades do mercado, manipulando o discurso à nova realidade. Que novos alinhamentos discursivos no futuro? Depois de a escola estar ao serviço de uma ideologia para a passividade e não questionamento, alinha o seu discurso ao serviço de metodologias de aprendizagem massivas, mas criadoras de uma nova ordem: o enfraquecimento das exigências do aprender, escola mais débil para todos, no sentido em que a escola não realinha a sua aprendizagem num sentido critico, mas apenas num aprender sem questionamento e sem fundamentos, esta nova realidade: "é fácil aprender", beneficia nitidamente os alunos com contextos familiares abertos ao aprender; propicia a abertura à criação de escolas privadas para as elites e escola pública para as "massas"?; e cria uma nova realidade: as elites do poder vindas das escolas de elite? ou o afastamento do poder destas elites, mas cuja capacidade económica se "aproveita" de oportunidades económicas de corrupção, proporcionada pela chegada ao poder de elementos da escola massiva, cujos valores de cidadania política assentam numa vivência de oprimido e portanto o "novo" opressor?;
- desemprego estrutural, principalmente para as novas gerações - desfasamento entre a realidade e a promessa: se estudares poderás ser alguém?
- vulnerabilidade da escola às pressões sociais;
- escola como "bode expiatório" das crises económicas;
- a falta de emprego é devida à não qualificação dos indivíduos? depois de qualificados o mercado integra-os? estamos a vender gato por lebre?
- a escola deve preparar os estudantes para a necessidade da economia? Ou a economia é que se deve reajustar à mão-de-obra existente no mercado?
- os diplomas, licenciaturas perderam credibilidade no mercado, nomeadamente as escolas privadas. A criação de uma ideia de facilitismo e falta de preparação técnica em relação aos licenciados destas Universidades?
- centralidade dos meios de comunicação de massas - a televisão é o novo ópio do povo? o novo meio de alienação e não questionamento, ao serviço do poder económico, ou a resposta das massas a quem pretende olhar para elas de forma sobranceira, apesar de aparentemente compreensiva? Não teremos nós direito de escolher os nossos hobbies? Apenas o conhecimento livresco, cultural é válido? Porque devo aprender determinadas matérias? Quem deve reger a minha aprendizagem, enquanto adulto?;
- escola "transbordada" de mandatos (NÓVOA, António) - o transbordamento da escola fá-la perder de vista a sua função?;
- emergência de movimentos anti-escola, fundamentalismos diversos e neo-conservadores religiosos - pretendem negar a importância da escola, pois a mesma põe em causa, comportamentos xenófobos, racistas, manipuladores, entre outros?
Contudo esta nova realidade, a revalorização dos campos de educação não-formal e informal, só em parte pode ser atribuída à crise da escola, veja-se a emergência do ciberespaço e da socidade cognitiva (?) . Há outras formas de aprendizagem para além da escola, no âmbito da aprendizagem informal e não-formal: internet, televisão, formação profissional, formação vocacional, associações desportivas e culturais, o fenómeno das confrarias gastronómicas, muitas delas com uma vertente predominantemente de difusão cultural de uma região através da gastronomia,etc;
Concluindo: Se os novos lugares da educação não-formal e informal se originaram em fenómenos que pouco ou nada têm a ver com a crise na escola, os mesmos poderão vir a acentuar e aprofundar a crise da escola.
Principalmente se forem ocupados e controlados por interesses económicos dominantes (Mathnasium, já é disso um exemplo).
Urge, por tudo isto, reflectir mais aprofundadamente sobre todos estes dilemas, mas principalmente sobre a questão principal: de que forma a educação não-formal e informal poderá ser disputada por muitos e diferentes interesses, e contraditórias racionalidades políticas e pedagógicas?
Resumo do texto de Almerindo Janela Afonso; Jornal: "A página da educação", ano 11, n.º 110, Março 2002, p.27
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