"Quais são os meus receios? Na educação de adultos, sempre lutámos pela lógica do reconhecimento dos adquiridos, mas é importante saber como se faz e para que se faz. É muito perigoso fazer balanços de competências se depois não temos uma rede pública instalada para dar resposta aos problemas. O problema do balanço de competências é que identifica competências e identifica incompetências; ou seja: o indivíduo pode sair mais competente em certas áreas, mas foram identificadas lacunas. Ou nós temos uma política e uma rede públicas e vamos encaminhar as pessoas não apenas na lógica de completar ciclos escolares ou profissionais mas também para lógicas mais alargadas, e então eu diria que faz um certo sentido. Ou, se não temos, corremos um grave risco. A alternativa é certificar à pressa e burocraticamente, ou fazer o trabalho a sério. Mas depois ficamos confrontados com uma situação que é: identificamos incompetências, mas não sabemos como lidar com elas porque não há uma rede pública. A própria linguagem das competências é uma linguagem que está na moda, mas eu diria, uma lógica de competências integrada numa política que é muito tecnocrata, muito ligada à formação profissional, não sei se tem vantagens. Eu creio que tem inconvenientes. As competências estão muito ligadas à própria competição. Em língua portuguesa, aliás como em castelhana, competência quer dizer também competição. A linguagem das competências vem do mundo empresarial e esta ideia de atrair adultos para completar a sua escolaridade ou de terem reconhecida formação profissional através da lógica das competências, é algo que penso ser errado do ponto de vista político, é errado do ponto de vista conceptual. Nós vamos arriscar a deslegitimar as nossas práticas, o balanço de competências e os cursos EFA, a partir do momento em que ficar claro – e ficará, mais cedo ou mais tarde – para os próprios implicados, de que aquela formação não tem o impacto que se supunha, e o impacto é muito mais retirar desempregos da estatística social, é evitar a anemia social e uma desregulação social maior, porque enquanto as pessoas estão ali têm outras condições de trabalho e estão integradas dentro do sistema. Não me arrisco a dizer que isto deve terminar, que isto não tem impacto, não tem potencial. Eu penso que sim. Agora, fico muito preocupado com todo o sistema de educação de adultos estar reduzido, neste momento, a isso. Continuamos a insistir numa formação profissional de adultos que não tem uma retaguarda e uma formação profissional para empregos que não existem. Esta lógica de que uma boa formação profissional, uma boa escolarização, uma boa educação adaptada aos requisitos do mercado de trabalho resolveria os problemas é uma ilusão, é o verdadeiro facilitismo em educação, aqui é que a educação é facilitista, está a investir recursos, expectativas, quando se sabe que isso não é verdade, não é possível, não é a educação que cria postos de trabalho, não é a formação profissional que vai criá-los. Temo que o resultado destas políticas seja de desmobilização dos próprios adultos, que num determinado momento acreditaram, investiram e esperaram que a sua vida mudasse e que as condições da sua existência pudessem ser melhoradas; e nós sabemos que isto não é verdade."
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