"Como é que vejo a situação actual? Estas valências da Anefa, designadamente os Centros RVCC e os cursos EFA prosseguiram, porque tinham elementos interessantes e porque havia financiamento. Neste momento discute-se o seu alargamento ao nível do ensino secundário e com uma articulação maior com as escolas. Eu diria que vamos correr fortíssimos riscos, mais uma vez a educação de adultos ou o que resta dela arrisca-se a ser fortemente escolarizada. Além disso, não estamos a instalar uma rede pública disseminada no país nem de cursos nem de centros. Os cursos EFA, por mais relevantes que sejam – e eu penso que são e têm potencial – são, em termos quantitativos, ridiculamente pequenos face às necessidades do país. São orientados de uma forma estreita, não para os adultos mas para os activos adultos, não se articulam com projectos de desenvolvimento local, de educação popular, de educação de base, articulam, preferencialmente, com uma certa válvula de escape relativamente ao desemprego de activos desempregados, numa certa faixa etária, desistindo, de certa maneira, de todos os outros. E esta é a palavra de ordem de todas as políticas públicas de educação de adultos actuais. Não chegam a ser de educação de adultos porque só tratam de uma parte; apesar de tudo, desistiram. Desistiram dos analfabetos literais, da educação popular, da educação cívica para a cidadania democrática, desistiram da educação pós-básica, da educação de adultos. Desse ponto de vista, não estou muito optimista, creio que não obstante o potencial dos cursos EFA e dos Centros RVCC, a tónica é demasiado instrumental, está centrada no diagnóstico que já está feito. Se Portugal tem um problema de atraso de qualificações, a política que vem a seguir é: vamos qualificar, certificar rapidamente. Sabe-se que os centros e os cursos EFA têm uma pressão governamental para a produção de certificados. Estamos numa situação tão dramática que não me atrevo a fazer uma critica destrutiva a tudo isto. O que eu critico é que isto é absolutamente insuficiente em termos numéricos, em termos quantitativos, em termos de rede pública e muito mais insuficiente é tudo aquilo que é educação de adultos e se deixou de fora.A questão é: estamos a instalar uma rede pública, disseminada no país, de centros de reconhecimento e de cursos EFA? A resposta é: não estamos. Longe disso, a rede instalada do ensino recorrente nocturno consegue ser muito maior e os números são absolutamente incomparáveis. E lá está o problema de continuarmos com duas linhas paralelas, o ensino recorrente nocturno nas escolas regulares e os cursos EFA e os Centros RVCC. As coisas nunca são articuladas."
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